domingo, 20 de novembro de 2016

Como funcionam competições de planadores?

Por Sergio Lousada Jr

Planadores são basicamente aviões sem motor. Funcionam exatamente igual, mas para ir longe precisam voar como pássaros: buscando correntes de ar que sobem no céu pra ganhar altura e ir“pulando”de térmica em térmica, igualzinho urubus.

Imagem 1:Típico perfil de voo térmico

Como em quase toda competição, vence quem anda mais rápido.

Como dependem muito da condição climática pra poder navegar mais longe, todo dia uma comissão analisa o que é possível de ser feito no dia, e distribui qual é o trajeto a ser percorrido.
Tipo uma formula 1?

Quase

Existem diversos tipos de planadores, alguns melhores que os outros em determinadas condições e outros ruins em outras.
Pra ninguém ficar pra traz de forma injusta, existe o Handicap
O Handicap é uma compensação na pontuação, pra todo mundo poder em teoria, estar competindo de igual pra igual, mesmo tendo equipamentos diferentes.
Fazendo uma analogia infame, uma Ferrari no voo a vela pontua por menos que um fusca, pois o objetivo das competições é sempre avaliar os pilotos retirando bastante o fator máquina.

Como se depende muito do clima, às vezes no voo a vela pra se ir de A a B, temos de passar por todas as outras letras do abecedário! Utilizamos diferentes tipos de provas dependendo do dia.
Um desses tipos são Provas de Áreas Designadas

Nele, cada prova tem um percurso mínimo ( baseado na performance do pior planador competindo), definido pela comissão de prova.
Nesse tipo de prova, se o planador mais eficiente decidir fazer apenas o percurso mínimo ele pontua menos, já o pior planador de menor performance que executa o percurso mínimo pontua mais, a Ferrari dos céus perde pro fusca. ( Lembre-se estamos avaliando os pilotos!).

Imagem 2: Linha de largada, areas, e chegada de uma prova de Áreas

Por isso que usamos áreas, onde todos os pilotos podem decidir percorrer o quanto quiserem dentro de cada área, e tem também flexibilidade.
Existe também as provas Grand-Prix (na qual todos largam ao mesmo tempo), e alguns outros tipos utilizados dependendo da condição térmica do dia.

E se o planador não conseguir achar essas térmicas na navegação?
Como o planador não tem motor, ele fica sempre longe o suficiente pra voltar pra casa planando. Chamamos isso de “Cone de Segurança”.
Quando navegamos, “pulamos” de cone em cone, de forma que sempre possamos pousar em uma pista.
Mas às vezes o caminho é tão longo que não existem pistas próximas, quando isso acontece, e as térmicas acabam, nós temos de pousar fora.

Imagem 3:Dois planadores pousados fora em arado durante a Etapa Sudeste 2013. Foto: Arquivo Pessoal

Mas pousos fora são assunto de um outro post!

Acompanhe o Nas Nuvens!

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Histórias do Wolfi Gabler


Na intenção de reviver boas histórias do voo a vela Brasileiro, decidi googlar o nome do meu pai Wolfi, e eis que surge alguns bons relatos do blog do amigo Umberto Campos www.ucampos10.wordpress.com

Divido alguns trechos aqui, e agradeço imensamente pelas palavras de cada um de vocês como filha do Wolfi é incrivel reler e realmente saber que ele fez muito pelo voo a vela Brasileiro.  Um viva pro WOLFI!!!! 

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Wolfi, por quem o  conheceu bem

O Wolfi foi amigo de infância e, por culpa minha, ficamos afastados por décadas. Por razões basicamente profissionais eu estive fora do voo a vela por cerca de 25 anos.

Wolfi + Mario Lara + Jorge Neumann 
Quando finalmente retornei há pouco mais de 10 anos, o Wolfi e Palmeira imediatamente ressurgiram na minha vida. Eu nunca havia feito um mísero voo fora do cone e o procurei com o “ambicioso” plano de fazer os 50 km. A recepção que tive foi como se nosso último contato tivesse ocorrido no dia anterior. Fui colocado c ompletamente em casa em Palmeira, o clube todo dando suporte a esta minha missão. Minha primeiríssima navegação resultou em um voo de 80 km, um bem estar com a sensação de missão cumprida, e as pilhas carregadíssimas pelo Wolfi para tentar outras metas.
Quando pouco tempo depois completei os 300 km pré-fixados com o L4 (KW1), no pré nacional de 2003, ele estava na beira da pista me aguardando e ainda antes de eu abrir a capota estava perguntando se eu havia conseguido. Quando disse que sim ele quase saltou para dentro do planador para me abraçar, com uma alegria quase maior do que a minha própria.
Por impulso dele fiz muito mais do que podia imaginar pudesse um dia fazer no voo a vela. Voos memoráveis pelo bem, como os 300 km ou um outro voo de 280 km com média de 83 km/h também com o L4, ou pelo mal, como o voo onde foi detectado o problema dos ailerons dos KW1.
Na manhã seguinte, quando cheguei ao clube, com o L3 ainda na carreta , encontrei ele, o Dal Magro e o Junqueira examinando as asas. A preocupação dele em encontrar o defeito e esclarecer o que havia ocorrido era enorme. O Dal Magro deu a dica ao observar dois vincos na madeira da asa e do aileron. A partir disto, com o planador remontado e eu no cockpit, ele reproduziu o defeito e provou o erro de construção.
Seu empenho em resolver o problema preveniu novos acidentes e transformou o KW1 em um planador mais seguro.
Por Jorge Neumann

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O caminho LEM-SP é longo e como eu o fiz sozinho, tive tempo de sobra para pensar nos amigos, em especial no Wolfi, ainda mais depois que encontrei um tratorista em um posto em Cristalina, cujo tio rebocava em Palmeira e, claro, todos conheciam e admiravam o Wolfi.
Wolfi Gabler - Discus B3
 E me lembrei do Nacional em Bebedouro 2004. Dia de treino magnífico como sempre, eu e o Tatinha pegamos um cavado e a base foi para 2.500mts ou coisa assim. Mas o primeiro dia de prova foi uma lástima. “Festa estranha com gente esquisita”, fiz o que pude seguindo a prova que ia para o leste, depois para o sul, e voltava a Bebedouro. Ao chegar no sul, tinha um vento muito forte de proa para voltar a Bebedouro, a Libelle com os seus 35kg/m2 máximo de carga alar não gosta muito disso, e acabei ficando em Jaboticabal. Pelo que ouvia no radio (um festival de pousos fora), achei que poderia ter ganho a prova. Isso até o meu equipe – o Segalla – chegar para me resgatar e me dizer que “o Wolfi completou”. Dentro do conceito do que era possível fazer naquele dia, eu realmente não conseguia entender como ele tinha feito aquilo. Mesmo planadores com maior planeio (Nimbus 4) pousaram fora. Bem, quem estava em Bebedouro se lembra, o Wolfi simplesmente deu a volta no planeta, fazendo um dos maiores contornos de prova que se tem notícia, chegando em Bebedouro PELO NORTE, via Barretos. Seu vôo mágico o colocou em primeiro naquele dia, a mais de 200 pontos de mim na segunda colocação, o que é uma bela vantagem em se tratando de Nacionais, e uma vantagem maior ainda considerando que já imaginávamos que iria ser um campeonato com poucas provas possíveis. Infelizmente a segunda prova foi pior ainda – se validou, teve pontos irrisórios, e nenhuma prova a mais foi voada na classe Open. Bebedouro 2004 foi um campeonato que não validou, o Wolfi não pôde usar a grande vantagem que ele construiu logo no primeiro dia, mas ficou registrado na memória dos participantes um dos vôos mais incríveis que se tem noticia em campeonatos – um dia difícil onde com os melhores pilotos do Brasil presentes, apenas um solitário Discus voltou para casa.

E me lembrei do pré-nacional em Palmeira das Missões possivelmente em 2003? Dia muito esquisito, as decolagens foram sendo adiadas, e a faixa abriu ainda no solo. O Wolfi decolou e foi para o chão. Eu dei um pouco mais de sorte, pendurei, e me mandei mesmo baixo enquanto ainda havia um pouco de esperança, pois a coisa estava começando a ficar realmente feia em cima de Palmeira: começava a chover. Peguei a primeira térmica depois da largada ainda perto de Palmeira (confesso que dado a situação, eu não estava muito seletivo naquela hora), dei uma última olhada para trás e vi uma cena que até hoje me recordo claramente: o Discus decolando debaixo de água. O Wolfi fez o reboque na chuva, desligou a 600mts, deu a largada na sequência e usou cada ponto de planeio do Discus para, em planeio final, chegar na primeira esperança de sol que havia, a uns 15km fora de Palmeira, atravessando a área sombreada e chuvosa. Chegou no sol pouco acima de 100mts, conseguiu pegar algo, e estava de novo pronto para o combate.

E me lembrei dos vários recordes de distância e velocidade do Wolfi, com o primeiro vôo de 650km feito no Brasil com um 15-metros em 2004, simplesmente me mostrando que sim, isso era possível. E anotem aí: o Record do Wolfi de velocidade em triangulo FAI de 100km a 151km/h vai durar por DÉCADAS.

E me lembrei de outro pré-nacional em Palmeira das Missões, agora em 2006, onde eu estava com o YY. Em um dia muito ruim, tínhamos uma atmosfera completamente morta em um raio considerável sobre Palmeira. Adia a decolagem, tempo vai, tempo vem, e ficou claro que do jeito que a coisa ia, não ia ter decolagem possível. A famosa “janela Gabler” naquele dia estava um pouco descolada de cima de Palmeira… Aí o Wolfi vem com uma idéia estranha mas que se provou genial: o rebocador iria nos levar direto para o prolongamento da cabeceira 06, onde, a mais de 10km fora, luziam algumas nuvens esperançosas. Sim, isso era um reboque para fora do cone de segurança, mas fomos na onda do Wolfi e não é que acabou dando certo? O Wolfi foi o primeiro, e quando foi a minha vez já encontrei de cara o Marinho me balizando uma térmica, e foi até mais fácil do que muito reboque no cone. Resultado, todos os 8 planadores completaram a prova, com o Wolfi fazendo mais um daqueles vôos que em geral ele tirava do chapéu durante campeonatos, pegando uma linha de chuvas e registrando mais de 100km/h de média.

E me lembrei do nacional em Bebedouro 2001. Depois de uma prova difícil mas muito boa, estávamos em cima de Bebedouro eu, o Batata com o Jantar 3 “JO”, e o Junqueira com o Discus. Ainda tínhamos que ir para um último bate e volta em Barretos, os últimos suspiros térmicos tinham meio que se exaurido, era o fim do dia e ficamos girando uma coisinha ruim mas honesta, para poder fazer o bate e volta no cone. Eu me lembro de ficar girando vendo toda hora o “JO” na minha cara e achei que fosse um sinal divino “Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era JÓ; e era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal” – ou algo que entendi como “desviava-se das descendentes e me mostrava o caminho das térmicas de +3m/s”. Num dado momento a coisa acabou, e fomos cutucar a área mesmo sem altura. O Junqueira optou por ir a esquerda de Barretos, em uma área meio sombreada, o Batata também foi, e eu achei que a direita, sobre uns cafezais, ia dar mais certo, e nos separamos. Junqueira e Batata foram se sustentando, cutucaram a área e fecharam a prova com maestria, tendo o meu vôo um desfecho bem diferente. Depois da prova eu perguntei ao Batata “Qual insight vc teve, qual o baseamento técnico, o que fez vc ir pela esquerda, que afinal era o caminho certo?” E a resposta do mestre Batata foi algo como “Que insight que nada. Vc ainda não aprendeu que quando o tempo mela, a regra é: siga o Junqueira? Eu nem pensei, apenas segui o Junqueira!!!”. Vivendo e aprendendo, eu tinha ido pela direita, saí do cone em uma zona morta, e lá perto de Barretos, me encontro com o Wolfi, com o mesmo problema que eu: a terra prometida estava além do nosso alcance. E lá ficamos, se eu não me engano, mais de 20 minutos girando um zerinho, jogando a prova fora minuto a minuto, um olhando na cara do outro, tentando se ajudar, compartilhando cada sucesso ou fracasso nas inúmeras tentativas de re-centrar e tentar melhorar aquele zerinho. Bem, o Wolfi era conhecido como um bom subidor de térmicas, então eu estava em boa companhia. Acho que se pedirmos para os pilotos descreverem as qualidades do Wolfi, uma que aparecerá com certeza em uníssono seria a capacidade acima da média de subir bem em térmicas. Bem, acabamos conseguindo subir, voltamos para Bebedouro, e no solo, depois de entregar o logger com o medíocre vôo, um olhou para a cara do outro e demos uma boa risada do infortúnio compartilhado. Naquele dia nada precisou ser dito.

E me lembrei de muitas outras coisas, que agora só nos resta contar, pois a fonte secou. Para que assim os mais novos saibam que houve um piloto que escreveu seu nome na história do vôo a vela nacional, ganhando campeonatos, quebrando records, mostrando que o impossível talvez seja possível, ou, talvez mais importante do que tudo isso, simplesmente sendo um camarada gente boa.

Por Henrique Navarro

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Wolfi e Gabler Cumulus
Eu conheci o Wolfi no Campeonato Brasileiro em Bauru no mês de fevereiro de 1978.

Naquela época o campeonato era realizado em 15 dias e no mês de  fevereiro, em Bauru, chovia muito. O Wolfi estava participando com o Planador Cúmulos, tipo um Grunau Baby com o cone de cauda mais fino e planeio bem abaixo de 1.20 (20:1). Naquela época a antiga Cassse B era muito forte. Em torno de 30 competidores ou mais, pois existiam poucos planadores de alto rendimento. Por isso tinha muito veterano, com muita experiência, na classe B. Tinha somente três Quero-Quero (KW-1) participando. Eu com o nosso ZPR; o Gabler, pai do Wolfi e outro de Jundiaí, não lembro o nome do piloto. Os demais planadores eram Spacey, Olímpias, Grunaus Baby, Fofoquinha e Periquito. O Quero-Quero era, na época, a super-máquina da B. Eu estava no meu primeiro campeonato e o mais experiente era o pai do Wolfi. E não teve para ninguém. O WOLFI venceu o Campeonato na B, voando aquele planador com planeio de asa delta. Na maioria das provas ocorreram muitos pousos fora em função das chuvas e o Wolfi completava todas. Eu acho que foi na penúltima ou na última prova. O tempo estava estourado e os planadores melhores completaram a prova com ótimas medias. O Wolfi estava chegando com o Cúmulos em Bauru sofrendo, no finalzinho da tarde, com quase duas horas a mais que os melhores do dia. A sua classificação não seria boa, mas ele queria ganhar o campeonato como aconteceu. Eu e o pai do Wolfi já havíamos completado a prova há muito tempo e estávamos na torre do Aeroporto de Bauru quando vem o Wolfi rodando há poucos quilômetros do aeroporto e iniciou o planeio final. Aí a velha raposa, o pai Gabler pegou o rádio e falou para o Wolfi pousar fora. E ele mergulhou e pousou num arado a mais ou menos 2 quilômetros do campo. Com isso ele ganhou a prova, pelo handcap da época. Se ele chegasse ao campo ia contar velocidade e perderia para os demais, mas com o pouso fora praticamente com todos os quilômetros completados foi favorecido.
Só tenho elogios ao Wolfi e ao seu pai Gabler. Aprendi muito com eles e voamos muitas vezes juntos. Eles tinham o vôo a vela no sangue. Infelizmente ninguém é eterno aqui na terra. Enfim… é a vida.
Por EDUARDO – BALSA NOVA


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Na manhã da oitava prova do 23° campeonato brasileiro (Bauru/fev 1981) o ar estava mais seco com promessa de bases mais altas. Muitos dos 16 pilotos que estavam voando na classe B (equivalente a atual classe A) cultivavam a idéia de tentar uma prova com mais de 300 Km. Os relatos de campeonatos mais antigos, onde foram realizados vôos de longa distância com Olympias, BN-1 e Kranich nos estimulavam a repetir a façanha com nossos Quero-Queros de desempenho semelhante. Não foi preciso muito esforço para convencer o Wolfi que, além de piloto competidor também era responsável pela comissão de provas da classe B. Consultamos o Vilela, nosso competente meteorologista, que de início se mostrou reticente, mas acabou concordando que havia alguma chance de sucesso. Obtida a benção do Vilela definimos a prova. Desde o treinamento o setor sudoeste, na direção de Lençóis Paulista se mantinha funcionando até mais tarde. Naturalmente a última perna teria que chegar de lá para aproveitarmos o dia ao máximo. Acabamos escolhendo um triangulo espichado de 330 Km, Bauru-Lins-São Manoel-Bauru que nos manteria no conhecido “caminho da roça”, o eixo da Marechal Rondon.
Para termos alguma chance de sucesso tínhamos que decolar o mais cedo possível, mas aí havia um problema. Na época os planadores da antiga classe A sempre decolavam primeiro. Tivemos que negociar no briefing. No princípio a maioria do pilotos da classe A não levou muito a sério a nossa proposta mas, depois de algumas gozações e piadas, acabaram topando inverter a ordem de decolagem.
Nesse dia a classe A marcou uma prova com 253 Km. Pela primeira vez, inferior à da classe B. Para se ter uma noção de como estávamos otimistas naquele dia, basta dizer que, nas sete provas anteriores marcadas pela classe A no campeonato, apenas uma superou os 300 Km (320 Km) e apenas cinco pilotos entre os dezessete participantes completaram.
Findo o briefing foi uma correria entre os pilotos da B para decolar o mais cedo possível. Entre os preparativos precisávamos emprestar barógrafos para validar os eventuais Diamantes e C de Ouro. Nem sonhávamos ainda com GPS e registradores de vôo nessa época.
Na decolagem uma sensação ambígua, a mistura da euforia da realização de um vôo memorável, com aquele gosto de missão suicida, onde possivelmente nenhum piloto viria a completar a prova. Tão logo a faixa abriu dei a largada, exatamente as 11:50, bem mais tarde do que o estimado para nos dar uma chance de sucesso. Procurei não pensar muito nisso e me esforcei para voar o mais rápido possível e desfrutar o vôo. No início as bases não ultrapassavam 1100 m de altura com térmicas entre 2 e 3 m/s. Chegando em Lins a 100 Km de distância em pouco menos de duas horas, a média estava baixa, apenas 55 Km/h. Para piorar, entre Lins e Pirajuí fiquei baixo duas vezes derrubando mais ainda a média. As 15:30 estava no través de Bauru e as bases já alcançavam 1500 m tornando o vôo mais fácil. A média permanecia nos 55 km/h de maneira que a minha expectativa era terminar o vôo próximo do último ponto de virada em São Manoel ou quem sabe em Lençóis Paulista.
Wolfi no kw1 + Sidão em Palmeira das Missões
Pouco antes de virar São Manoel encontrei, pela primeira vez no dia, outro planador. Era o Wolfi. Isto me animou porque ele estava em primeiro lugar no campeonato e fiquei com a sensação de que não havia cometido tantos erros até então. Daí em diante, apesar de cada um continuar a fazer seu próprio vôo, acabávamos repartindo algumas térmicas, já que estavam menos freqüentes. Não estávamos em contato por rádio, que ainda era um luxo na classe B. Virando São Manoel às 16:20 as térmicas continuavam fortes e as bases um pouco mais altas. Comecei a ter esperanças de retornar a Bauru. Gradativamente o Wolfi e eu passamos a voar juntos, aumentando nossas chances. Passando Lençois Paulista a 38 Km fora , com 1600 m de altura e um ventinho de cauda ajudando, feitas as contas no computador de planeio final analógico (montado em tampa de caixa de sorvete e com eixo de carga de bic) teoricamente estávamos em casa. O Wolfi estava na minha ala, compondo uma cena bonita, a luz já amarelada no planador e Bauru ainda fora da vista na bruma. Fiz sinais de que já estávamos no cone e o sorriso do Wolfi não deixou dúvidas disso. Nisso bateu o espírito de competição, que tinha ficado em segundo plano. Começamos a aumentar a velocidade, cada um procurando o melhor caminho para ser o primeiro a chegar. Afinal de contas campeonato é campeonato… Cruzamos a faixa de chegada praticamente juntos num rasante, o Wolfi um pouco à frente, e puxamos cada um para um lado. Após o pouso muitos correram para nos abraçar, entre eles o Ary Schneibel construtor dos Quero-Quero que estava tão feliz quanto a gente. Era a primeira vez que as suas crias completavam uma prova tão longa. Mas a festa não terminou por aí. Vinte minutos depois chegou outro planador. Outros foram vindo na sequência, até que, mais de uma hora depois da nossa chegada, o último dos sete felizes pilotos de Quero-Quero estava em casa. Saudade Wolfi…

Por Sergio Bassi - CVV CTA

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O Wolfi era conhecido pelos seus belos rasos (ele era piloto agricola ele trabalhava fazendo rasos o dia inteiro!)

Aqui dois bons rasos no youtube: 
Wolfi no seu habitat natural - raso em Bebedouro 2009





sexta-feira, 22 de julho de 2016

Entrevista com Claudio Schmidt

Claudio Eduardo Schmidt, 48 anos  participará do seu segundo campeonato mundial , o primeiro na Finlândia em 2014. Fo três vezes campeão Brasileiro, 2006 (Palmeira das Missões RS ) Classe Aberta,  2008 Classe Aberta (Bebedouro) 2015 Classe Racing(Bebedouro).

Qual foi seu primeiro contato com o voo a vela? 
Tive meu primeiro contato com o voo a vela em Rio Claro quando começou a primeira turma de pilotos de planador, onde meu pai Vilson Schmidt foi um dos formandos.

O que é o voo a vela pra você?
O voo a vela hoje é o meu hobby e esporte preferido, vivo me programando e conciliando com o trabalho e família para voar , por isso me dedico aos treinamentos quando posso aos finais de semana e quando o tempo permite.

Como é sua preparação para o mundial? 
Nessa semana consegui me ausentar dos meus negócios e aproveitar para treinar com o Batata o Marcos Junqueira e o Heinz o que está sendo muito bom.

A delegação Brasileira para o mundial é composta por quantas pessoas? 
A delegação é composto pelos 2 pilotos Eu e o Navarro, e o Claude Buchou com o Tadeu Passareli como equipes.

Qual o tipo de apoio que o Governo Brasileiro/entidades estão dando?
Não temos apoio governamental, fizemos um projeto para captação mas não conseguimos captar o mínimo do valor de contrapartida do projeto portanto todos os custos estão sendo pago pelos pilotos, oque não está sendo fácil.

Qual a principal diferença entre o voo a vela competitivo brasileiro e o voo a vela competitivo mundial?
Nível dos competidores, quantidade de planadores e estratégia das equipes com seus treinadores que tomam  juntos algumas decisões.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Surfando na atmosfera: os voos de onda com planadores

Nuvem lenticular 
Um dos mais fascinantes fenômenos na atmosfera pode levar aeronaves à estratosfera, e proporcionar voos continentais sem precisar de motor. Isso são as ondas.

A onda é um dos mais colossais fenômenos da atmosfera utilizados por planadores,  ela consiste em na ondulação de diversas camadas da atmosfera devido à passagem do vento por uma cadeia de montanhas.
Quando o vento é deslocado pela formação de montanhas, as camadas  da atmosfera inferiores começam a oscilar acompanhando o terreno, criando uma ondulação que pode cobrir centenas de quilometros. A condiçao que permite esse fenômeno inclui muitas outras variáveis juntas: temperatura, pressão, etc, que fazem das ondas um fenômeno raro no Brasil

Ao ser deslocado para cima devido ao terreno, encontram-se ascendências muito fortes (nas quais os planadores sobem) devido ao  fenômeno toda a coluna de ar na atmosfera sobe nessa região sobe.Nas “cristas” da onda formam-se nuvens chamadas lenticulares (pois se assemelham com o formato de lentes de óculos). Elas são os maiores indicadores da existência da onda, e utilizamos ela pra identificar a área de ascendência.Em baixo das lenticulares encontram-se rotores que carregam muita turbulência, e são evitados.

O vento que gera esse fenômeno é muito forte e crescente com a altitude, é comum encontrar  ventos de proa de 60 km/h ao se voar onda, e observar vel. de deslocamento no solo de 30km/h!.

As lenticulares formam um show pra quem as observa no solo.São famosas as fotos em diversos lugares do mundo.
Para quem voa, as ondas oferecem muitas oportunidades: Ganhos de altitude e distâncias.
Por deslocarem toda uma coluna da atmosfera pra cima, ganhos de altitude em onda podem ultrapassar 5000m. O recorde mundial de altitude em planador é de 15453 m (50699 ft), quebrado sobre os Andes. 
No Brasil o recorde brasileiro permanece incólume desde 1955: George Munch do CVV-CTA alcançou 7740m (25393 ft) sobre Pindamonhangaba - SP, voando na Serra da Mantiqueira.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Entrevista com Henrique Navarro


Navarro com seu planador N1

Henrique Navarro, 4.000 horas de voo em planadores e 500 em aviões, 4x campeão brasileiro na Classe Open. Representou o Brasil em três Campeonatos Mundiais (França 2006, Argentina 2012, Finlândia 2014), e agora se prepara para o Mundial na Lituânia em 2016.


Qual foi seu primeiro contato com o voo a vela? 

Meu tio, um dos fundadores do Aeroclube Mineiro de Planadores, me levou para voar com 17 anos. Eu fiz dois voos, e a verdade é que eu não curti, apesar dele dizer que eu levava jeito. Passado algum tempo, já com 24 anos, meu irmão me mostrou o voo a vela novamente. E dessa vez alguma coisa muito boa aconteceu e até hoje continua.

O que é o voo a vela pra voce?

O voo a vela me oferece várias oportunidades, de evoluir em diferentes aspectos, como pessoa. São tantas frentes que fica até difícil sumarizar. Mas só para citar uma, eu não me cansei até hoje de tentar descobrir o que é que tem depois daquela próxima montanha, e da próxima, e da próxima...

Quais são os critérios do Brasil para você ir ao mundial?
Existe um ranking de competição, que seleciona os pilotos que vão representar o Brasil em competições internacionais. Esse ranking leva em conta os resultados dos pilotos em campeonatos nacionais nos últimos dois anos, pois os Campeonatos Mundiais acontecem a cada dois anos.

Quais foram as principais dificuldades na preparação para o Mundial?
Sinceramente eu não penso muito nas dificuldades... É igual andar de moto, se você ficar olhando muito para um buraco vai cair nele, isso é fato. Sempre tem algo a fazer na preparação, que eu encaro como pequenos desafios que vamos dar um jeito de uma forma ou de outra. Por exemplo, a grande maioria dos campeonatos mundiais ocorrem no continente europeu, durante o verão deles – nosso inverno. O que significa que enquanto estamos tremendo de frio aqui, os europeus estão voando e treinando nos seus campeonatos nacionais. Isso me anima ainda mais a arriscar o máximo possível mesmo nesses dias fracos, frios e curtos que temos no inverno. Também normalmente não voamos a nossa própria aeronave – temos que alugar uma. Eu gosto do desafio de ”tunar” um planador, prepará-lo, descobrir suas manhas e as reações de seus instrumentos. É um processo divertido.

Como são as provas no mundial? existe alguma estratégia especifica?
São iguais as que fazemos aqui no Brasil: provas de velocidade, onde ganha o piloto que for mais rápido em um determinado percurso, ou que voar mais km em um determinado tempo fixo. Mas de maneira geral as provas são mais puxadas, afinal é um campeonato mundial. Não existe essa de “vamos fazer uma prova para todos voltarem para casa”, como as vezes se ouve por aqui. As provas são feitas para se aproveitar a plenitude do dia térmico, e se o meteorologista errou sendo muito otimista, ou algum piloto lento ficou para trás, vai pousar fora. Uma boa estratégia, que a maioria dos pilotos de ponta fazem, é voar em dupla. Neste mundial vou voar em dupla com o Claudio Schmidt, um campeão que também é muito gente boa. Já fizemos alguns treinos juntos, com a orientação do Batata (7x campeão brasileiro e especialista em voos em dupla),  tenho certeza que vai ser divertido.


Como é voar competitivamente num país diferente do Brasil?
Chaves - Argentina Campeonato Mundial
É interessante pois todos os pilotos em um campeonato mundial são campeões nacionais em seus respectivos países. Um piloto que ficou em último colocado em uma prova pode ser bem um campeão espanhol por exemplo. E campeões tem um sentido muito forte do que acham que é o certo - cada um vai individualmente buscar fazer o seu melhor indiferente do que os outros acham. Bandão só se for estrategicamente necessário. Me lembro do meu primeiro mundial nos Alpes, estava no topo de uma térmica com mais 15 planadores e cada um saiu para um lado. Eu pensei “caramba, estou voando no meio de 10 Batatas, 10 Wolfis, 10 Junqueiras... cada um com a sua cabeça fazendo o que acha que é certo”. Isso me ensinou muito, pois é uma coisa que o meu irmão sempre me dizia: “para ser um campeão você tem que voar como um campeão”.

Como adquirir conhecimento/pesquisa para voar em outro território?
Eu passo os meses que antecedem o campeonato examinando voos que ocorreram por lá. Também sempre arrumo algum piloto experiente local para dar as dicas. Estudo bem a meteorologia, e o que foi falado nos briefings meteorológicos dos campeonatos passados. E por fim, temos algo como 1 semana de voos de treinamento para nos acostumarmos. Eu analisei bem a região de Pociunai (Lituânia) e para ficar feliz concluí que é muito parecido com Itápolis, bem entre Bauru e Bebedouro. Assim penso que vou estar em casa.

Que tipo de voo você espera encontrar na Lituania?

Dias térmicos fortes e longos. E por isso escolhi um planador “Jantar Std.” para voar, um planador que se dá bem em dias fortes com handicap fixo. Bem, esse era o estimado. Mas o verão europeu começou com o sul da Europa embaixo d’água, com vários campeonatos sendo cancelados no sul da França por exemplo. Outros campeonatos foram medíocres também. Por sorte a Lituânia está um pouco mais para cima, e embora o tempo não esteja fantástico, está sendo minimamente bom. E estamos a 3 semanas do Mundial, está melhorando pouco a pouco.
2010 em Palmeira das Missões 

Com qual planador você competirá e qual classe? Está levando o seu proprio planador Brasil ou alugará? 


Eu aluguei para mim e para o Schmidt dois Jantars Std. 1. Esse planador é praticamente idêntico aos Jantars 2 e 3 que temos aqui no Brasil, e são planadores que nós dois conhecemos bem... o Schmidt tem um Jantar 3, e eu também já tive um Jantar 3, o YY, planador com o qual ganhei 2 campeonatos pré-nacionais em Palmeira das Missões em 2006 e 2009, e com o qual voei o Mundial na Argentina em 2012, ficando em 11º. Eu e o Schmidt não precisamos nos acostumar com o “modelo” Jantar, só precisamos nos acostumar com as manhas dos planadores específicos que vamos voar.