quinta-feira, 7 de julho de 2016

Entrevista com Henrique Navarro


Navarro com seu planador N1

Henrique Navarro, 4.000 horas de voo em planadores e 500 em aviões, 4x campeão brasileiro na Classe Open. Representou o Brasil em três Campeonatos Mundiais (França 2006, Argentina 2012, Finlândia 2014), e agora se prepara para o Mundial na Lituânia em 2016.


Qual foi seu primeiro contato com o voo a vela? 

Meu tio, um dos fundadores do Aeroclube Mineiro de Planadores, me levou para voar com 17 anos. Eu fiz dois voos, e a verdade é que eu não curti, apesar dele dizer que eu levava jeito. Passado algum tempo, já com 24 anos, meu irmão me mostrou o voo a vela novamente. E dessa vez alguma coisa muito boa aconteceu e até hoje continua.

O que é o voo a vela pra voce?

O voo a vela me oferece várias oportunidades, de evoluir em diferentes aspectos, como pessoa. São tantas frentes que fica até difícil sumarizar. Mas só para citar uma, eu não me cansei até hoje de tentar descobrir o que é que tem depois daquela próxima montanha, e da próxima, e da próxima...

Quais são os critérios do Brasil para você ir ao mundial?
Existe um ranking de competição, que seleciona os pilotos que vão representar o Brasil em competições internacionais. Esse ranking leva em conta os resultados dos pilotos em campeonatos nacionais nos últimos dois anos, pois os Campeonatos Mundiais acontecem a cada dois anos.

Quais foram as principais dificuldades na preparação para o Mundial?
Sinceramente eu não penso muito nas dificuldades... É igual andar de moto, se você ficar olhando muito para um buraco vai cair nele, isso é fato. Sempre tem algo a fazer na preparação, que eu encaro como pequenos desafios que vamos dar um jeito de uma forma ou de outra. Por exemplo, a grande maioria dos campeonatos mundiais ocorrem no continente europeu, durante o verão deles – nosso inverno. O que significa que enquanto estamos tremendo de frio aqui, os europeus estão voando e treinando nos seus campeonatos nacionais. Isso me anima ainda mais a arriscar o máximo possível mesmo nesses dias fracos, frios e curtos que temos no inverno. Também normalmente não voamos a nossa própria aeronave – temos que alugar uma. Eu gosto do desafio de ”tunar” um planador, prepará-lo, descobrir suas manhas e as reações de seus instrumentos. É um processo divertido.

Como são as provas no mundial? existe alguma estratégia especifica?
São iguais as que fazemos aqui no Brasil: provas de velocidade, onde ganha o piloto que for mais rápido em um determinado percurso, ou que voar mais km em um determinado tempo fixo. Mas de maneira geral as provas são mais puxadas, afinal é um campeonato mundial. Não existe essa de “vamos fazer uma prova para todos voltarem para casa”, como as vezes se ouve por aqui. As provas são feitas para se aproveitar a plenitude do dia térmico, e se o meteorologista errou sendo muito otimista, ou algum piloto lento ficou para trás, vai pousar fora. Uma boa estratégia, que a maioria dos pilotos de ponta fazem, é voar em dupla. Neste mundial vou voar em dupla com o Claudio Schmidt, um campeão que também é muito gente boa. Já fizemos alguns treinos juntos, com a orientação do Batata (7x campeão brasileiro e especialista em voos em dupla),  tenho certeza que vai ser divertido.


Como é voar competitivamente num país diferente do Brasil?
Chaves - Argentina Campeonato Mundial
É interessante pois todos os pilotos em um campeonato mundial são campeões nacionais em seus respectivos países. Um piloto que ficou em último colocado em uma prova pode ser bem um campeão espanhol por exemplo. E campeões tem um sentido muito forte do que acham que é o certo - cada um vai individualmente buscar fazer o seu melhor indiferente do que os outros acham. Bandão só se for estrategicamente necessário. Me lembro do meu primeiro mundial nos Alpes, estava no topo de uma térmica com mais 15 planadores e cada um saiu para um lado. Eu pensei “caramba, estou voando no meio de 10 Batatas, 10 Wolfis, 10 Junqueiras... cada um com a sua cabeça fazendo o que acha que é certo”. Isso me ensinou muito, pois é uma coisa que o meu irmão sempre me dizia: “para ser um campeão você tem que voar como um campeão”.

Como adquirir conhecimento/pesquisa para voar em outro território?
Eu passo os meses que antecedem o campeonato examinando voos que ocorreram por lá. Também sempre arrumo algum piloto experiente local para dar as dicas. Estudo bem a meteorologia, e o que foi falado nos briefings meteorológicos dos campeonatos passados. E por fim, temos algo como 1 semana de voos de treinamento para nos acostumarmos. Eu analisei bem a região de Pociunai (Lituânia) e para ficar feliz concluí que é muito parecido com Itápolis, bem entre Bauru e Bebedouro. Assim penso que vou estar em casa.

Que tipo de voo você espera encontrar na Lituania?

Dias térmicos fortes e longos. E por isso escolhi um planador “Jantar Std.” para voar, um planador que se dá bem em dias fortes com handicap fixo. Bem, esse era o estimado. Mas o verão europeu começou com o sul da Europa embaixo d’água, com vários campeonatos sendo cancelados no sul da França por exemplo. Outros campeonatos foram medíocres também. Por sorte a Lituânia está um pouco mais para cima, e embora o tempo não esteja fantástico, está sendo minimamente bom. E estamos a 3 semanas do Mundial, está melhorando pouco a pouco.
2010 em Palmeira das Missões 

Com qual planador você competirá e qual classe? Está levando o seu proprio planador Brasil ou alugará? 


Eu aluguei para mim e para o Schmidt dois Jantars Std. 1. Esse planador é praticamente idêntico aos Jantars 2 e 3 que temos aqui no Brasil, e são planadores que nós dois conhecemos bem... o Schmidt tem um Jantar 3, e eu também já tive um Jantar 3, o YY, planador com o qual ganhei 2 campeonatos pré-nacionais em Palmeira das Missões em 2006 e 2009, e com o qual voei o Mundial na Argentina em 2012, ficando em 11º. Eu e o Schmidt não precisamos nos acostumar com o “modelo” Jantar, só precisamos nos acostumar com as manhas dos planadores específicos que vamos voar.

Um comentário:

  1. Bons vôos e boa sorte Navarro & Schmidt. Acompanharmos seus vôos e ficaremos torcendo pelos melhores resultados.

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